JOGOS HISTÓRICOS.
Itália 3 x 2 Brasil (1982) - A tragédia do Sarrià
O Hospital Municipal Salgado Filho, no Rio de Janeiro, teve um movimento atípico na tarde do dia 5 de julho de 1982. Nada menos do que 35 pessoas foram atendidas com hipertensão arterial. Em Fortaleza, o plantão do Instituto Médico-Legal registrou três mortes. Já em São Paulo, uma confusão tomou conta do centro da cidade. Isto para não contar as pessoas que foram vistas chorando pelas ruas do Oiapoque ao Chuí. Algum marciano que pousasse no Brasil às 16h15 desse dia poderia achar que o país passava por alguma tragédia cataclísmica. Foi quase isto: a derrota do Brasil para a Itália por 3 a 2, na segunda fase da Copa do Mundo. Tão lembrado quanto o futebol daquela Seleção Brasileira é o trauma que a eliminação, ocorrida no estádio Sarrià, causou.
A reação do volante brasileiro Toninho Cerezo, ao fim do primeiro tempo, parecia um prólogo do que viria em seguida. O camisa 5 do Brasil começou a chorar dentro de campo. O lateral esquerdo Júnior precisou acudir o companheiro. O motivo acontecera pouco tempo antes, aos 25 minutos: Cerezo errara um passe numa saída de bola, que terminaria num gol de Paolo Rossi. Àquela altura, a Seleção Brasileira já perdia o jogo. O mesmo Rossi abrira o placar aos 5 minutos, de cabeça, após um cruzamento do lateral esquerdo Antonio Cabrini. Zico era dúvida por causa de uma contusão muscular, mas o camisa 10 do Brasil dissipou qualquer desconfiança sobre sua condição física aos 12 minutos, ao dar um corte desconcertante em Gentile e enfiar uma bola para Sócrates empatar.
A disputa de Gentile com Zico, aliás, foi um duelo à parte. O italiano anulara Maradona no jogo anterior da Azzurra, e agora tentava fazer o mesmo com Zico, seguindo o brasileiro a cada passo que ele desse no gramado. A perseguição foi tamanha que, num lance dentro da área, já depois da falha de Cerezo, Gentile rasgou a camisa de Zico. O time brasileiro pediu pênalti, mas o árbitro israelense Abraham Klein alegou que a jogada estava parada por impedimento.
O empate do Brasil só chegou aos 23 minutos do segundo tempo, numa jogada que poderia resumir a beleza do futebol daquele time. Júnior avançou pela esquerda, trouxe para o meio e encontrou Paulo Roberto Falcão. Na entrada da área, o camisa 15 da Seleção dominou, pensou e puxou para o pé esquerdo. Enquanto isso, Toninho Cerezo disparava pelo lado direito e levava com ele a marcação. Falcão ficou com espaço aberto e soltou um tiro de pé esquerdo, sem chances para o goleiro Dino Zoff. Nas tribunas de imprensa do estádio Sarrià, Luciano do Valle exclamava: “só mesmo Falcão!”.
Os sorrisos e a certeza da superioridade do Brasil desapareceram seis minutos depois do empate. Telê Santana já havia tirado o centroavante Serginho Chulapa para reforçar o meio-campo brasileiro com Paulo Isidoro. No entanto, num escanteio para a Itália, Marco Tardelli pegou a sobra e bateu torto para o gol. A bola cruzou toda a área e encontrou Paolo Rossi, de novo, sozinho, para fazer o terceiro gol dele no jogo. A quem acusava o Brasil de ser muito ofensivo, é importante notar: todo o time estava dentro da área na hora do gol.
A eliminação brasileira tornava-se mais e mais palpável com o passar dos minutos. O time sentiu o gol, e quase tomou o quarto. Giancarlo Antognoni foi pego em impedimento antes de colocar a bola no fundo das redes. O último suspiro da Seleção aconteceu aos 44 minutos. Éder cobrou uma falta da esquerda, e o zagueiro Oscar subiu mais alto do que todos. A cabeçada firme parou em cima da linha, nas mãos do goleiro Dino Zoff.
Nada mais poderia ser feito. O Brasil estava eliminado da Copa do Mundo de 1982. Telê Santana foi aplaudido pelos jornalistas na coletiva pós-jogo. Paulo Isidoro e Edinho reclamaram de falta de chances de jogar no Mundial. Mas a imagem que ficou – e resumiu o sentimento nacional – foi a fotografia de Reginaldo Manente que estampou a capa do Jornal da Tarde do dia seguinte: um menino, com a camisa do Brasil, chorando a derrota.
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